quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Um cara estranho chamado Raul


Esse artigo foi publicado no jornal Pró-Cultura Alternativa da segunda quinzena de julho de 1991.

Raul Santos Seixas nasceu em Salvador em 28 de junho de 1945 numa família de classe média alta. Quando entrou no primário “empacou” por três anos na segunda série, porque matava aula para ouvir Rock ‘N Roll. Era fã ardoroso de Elvis Presley e até foi fundador de um fã-clube, o Elvis Rock Clube. Apesar do desapego aos estudos, Raul era muito inteligente e muito dedicado a leitura.
Em 1962, com 17 anos, monta seu primeiro grupo de rock e inicia a sua carreira cantando ao lado de ídolos da época como Roberto Carlos, Jerry Adriani, Wanderlei Cardoso, Wanderléia e outros nomes da Jovem Guarda. Em 1966, conhece Edith Wisner, uma americana filha de um pastor religioso. À pedido do pai da moça e dela própria, promete parar com a vida de artista e reiniciar os estudos. Presta vestibular para Direito e passa entre os primeiros colocados. Logo em seguida, casa-se com Edith e, para sobreviver, dá aula de violão.
Volta finalmente ao rock e faz turnê pelo norte com o conjunto Rauzito e os Panteras, ao lado de Jerry Adriani. Já no Rio de Janeiro, lança o primeiro LP. Em 1969, retorna à Salvador deprimido e desiludido. Retoma os estudos e faz Filosofia.
Em 1971, lança o seu segundo LP e, logo após, em 1972, participa do VII Festival Internacional da Canção. Em 1973, conhece Paulo Coelho, seu grande parceiro.
Em 1974, é exilado e vai para os Estados Unidos na companhia de Paulo Coelho. Lá visita a casa de Elvis Presley, Jonh Lennon e Jerry Lee Lewis. Ao retornar ao Brasil lança Gita e ganha seu primeiro disco de ouro. Lança diversos outros LP’s e, em 1981, pede rescisão de seu contrato com a CBS, recusando-se a fazer um disco em homenagem a Lady Diana.
Em 1982, quando fazia um show em Caieiras – SP, foi quase linchado pela platéia, tido como impostor de si mesmo. Foi espancado pelo delegado e por policiais da cidade, até que conseguiu provar a sua identidade, pois geralmente não portava documento algum. Em outra cidade do interior paulista, um grupo de beatas religiosas organizou protesto e abaixo-assinado para proibir seu show, afirmando que ele era um enviado do diabo. Raul não fez por menos; na hora do show, subiu no palco vestido a rigor, de negro, como o próprio. Foi o êxtase!
Com personalidade irreverente, letras fortes e muito talento, Raul “Rock” Seixas conquistou um público de certa forma restrito às grandes cidade e capitais, apesar de ser conhecido em todo o Brasil. Gravou cerca de 31 LP’s incluindo coletâneas. Em toda a sua carreira ganhou três Discos de Ouro. As músicas de sua autoria combinavam poesia, filosofia e irreverência.
Apesar de louco e realista, Raul sempre usou o nome de Deus em suas canções, deixando transparecer sua crença no Criador. Em 21 de agosto de 1989, subiu pelo “elevador dos fundos”, como gostava de cantar, às 5 horas da manhã, de parada cardíaca causada por uma pancreatite crônica. Das muitas frases fortes e de efeito que Raul dizia, uma verdadeiramente fará parte de sua história: “Os homens passam, as músicas ficam”.
Saudades, Raul, saudades...

Raul e as Drogas

Apesar de consumir drogas, Raul Seixas jamais incentivou alguém a usar. Pelo contrário, sempre reprimiu qualquer atitude de consumo, até mesmo com músicos de sua banda. Por ironia do destino, um de seus últimos sucessos, justamente, fazia uma alusão ao seu abandono do vício, desincentivando o consumo:
“Eu já parei de fumar
Cansei de acordar pelo chão
Muito obrigado, eu já estou calejado
Não quero mais andar na contramão.”


Rogério Basso


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