quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

A Cultura da Ajuda


A notícia veiculada no jornal “Estado de Minas” chocou os mineiros: um senhor matou a sogra a marretadas e simulou um assalto para fugir da autoria do crime. Mas, o que mais chama a atenção é o fato dele dizer que estava “ajudando” a sogra, livrando-a da tristeza de viver com restrições físicas há oito anos.
Diante disso, somos levados a fazer uma análise da sociedade brasileira, já que esse não é um caso isolado; há outros casos de barbárie com cunho “humanitário”. Aliás, é próprio do ser humano, em especial o brasileiro, achar que sempre pode interferir na vida do outro, com a intenção de “ajudar”.
“Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”: não é essa a verdadeira prática do brasileiro, que gosta de dar opinião em tudo, se intrometer nos assuntos alheios e, às vezes, se vê em situações vexatórias graças à sua boa vontade. Ledo engano! Ninguém quer ver sua vida exposta ao outro, ou intromissões fora de hora. Como se houvesse hora certa pra intromissão...
Essa mania do brasileiro é tão grande que, em alguns casos, chega a ser engraçada: um outro caso foi de uma senhora, vizinha de um casal, que ouviu gritos vindo do lado junto com barulhos de pancadas. Chamou a polícia, que invadiu a casa e flagrou o casal em cenas, digamos, íntimas.
Nada de engraçado na tragédia do assassino da própria sogra, mas o fato é que historicamente aprendemos a política da boa vizinhança. Com a miscelânea de raças que é composta a nossa população, ninguém foge ao jeitinho brasileiro, sejam japoneses, italianos, portugueses, árabes.
Essas situações embaraçosas de invasão à vida alheia formaram também uma cultura de defesa: vassoura atrás da porta para espantar visitas indesejáveis, sal grosso jogado pelas costas para espantar o mal olhado, espelho de frente para a porta para refletir o mal que entra na própria visita, entre tantas outras crendices que foram formadas no nosso folclore, na nossa cultura.
Nos tempos do Império já se via fuxicos, fofocas, intromissão. Não teria como ser diferente nos dias de hoje. Tudo isso foi herdado, sem nenhuma glória, por nossos avós e, posteriormente, por nossos pais. E isso foi incorporado pelo povo, para coisas engraçadas ou mesmo trágicas. Cabe a cada um procurar o discernimento em cada ocasião. Podemos tentar mudar as regras do jogo, ou então teremos mais um ditado para nos guiar: pau que nasce torto, morre torto e até a cinza é torta.

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