quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Resenha - Uma vida abaixo do tolerável


SALOMONE, Roberta: Uma Vida Abaixo do Tolerável. Revista Veja, Ed. de 8 de junho de 2005, p. 76-77.

Resenhado por Cláudia Biliato, Henrique Mendes, Luciana de Castro

e Ronaldo Pedroso

Na matéria da jornalista Roberta Salomone, veiculada no caderno “Cidades” da Veja, uma das revistas mais lidas do país, e ainda, uma das mais polêmicas, por publicar matérias muitas vezes direcionadas, é mostrada a realidade da orla da Praia de Ipanema, no Rio de Janeiro. Nela, é publicada uma foto que flagra uma criança saindo de um bueiro, local de sua moradia, contrastando com o vaivém de turistas e moradores abastados da região, um dos metros quadrados mais caros da cidade.

A jornalista conta ainda, não ser a primeira vez que esse fato ocorre. Em março de 2004, 25 pessoas haviam transformado uma galeria pluvial em um abrigo mais cômodo, com colchões, televisões e aparelhos de som. Assim que descobertos, foram removidos. Situações semelhantes já ocorreram também em Copacabana e no centro. Foram tomadas medidas para evitar o retorno dessas pessoas, com a concretagem e instalação de barras de ferro nos bueiros, impedindo o acesso aos túneis, e ainda o acompanhamento feito por educadores da prefeitura a essas pessoas.

Em Nova York, nos Estados Unidos, há também esse fato social: moradores vivem em túneis no metrô. Mas, assim como no Rio de Janeiro, há um esforço para removê-los de lá. A matéria ainda sita o filme de Luc Besson, Subway, com o ator Christopher Lambert interpretando um homem que conhece o subterrâneo do metrô de Paris e percebe uma sociedade com cultura própria e pessoas excêntricas, bem diferente do Rio de Janeiro, onde não há nenhum tipo de glamour.

A matéria aborda, mesmo que de forma superficial, o contraste de uma rica sociedade acima do solo e de outra miserável abaixo dele. Poderiam ter sido colocados mais elementos sociais, demonstrando de forma mais clara e impactante, a dura realidade de quem vive de pequenos furtos, de esmola, sem moradia e, porque não dizer, sem cidadania, vivendo totalmente à margem da sociedade carioca.

A remoção das pessoas dos bueiros é mais uma questão de se manter a boa aparência da orla para os turistas do que, de fato, um socorro social. Algo paradoxo, pois os turistas trazem dinheiro para a cidade, que não os utiliza de forma satisfatória para a população do Rio de Janeiro, em especial os miseráveis que vivem abaixo da linha da pobreza.

A solução para o problema deve ser extremamente abrangente, abordando ações nas áreas da educação, saúde, meio ambiente, turismo, infra-estrutura, alimentação, moradia, emprego e segurança. Não se resolve uma questão desse porte apenas impedindo a passagem de pessoas aos bueiros, ou ainda, com ações isoladas. O quadro merece ser tratado de forma séria e com pluralidade de ações.

O livro O Futuro da Humanidade – A saga de Marco Polo é recomendado, pois aborda a saúde, mais especificamente problemas psiquiátricos, e também os moradores de rua, mas de ponto de vista diferente, mostrando que cada pessoa tem uma história que merece e deve ser respeitada e levada em consideração, antes de se tomar quaisquer medidas públicas para a erradicação da miséria.

Nenhum comentário: