segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Manifestações: exagero de parte a parte



As manifestações ocorridas no mês de julho em todo o país deram o tom do que deverá ser feito pelos três poderes constituídos (Executivo, Legislativo e Judiciário) e nas três esferas (municipal, estadual e União). Muito foi cobrado, até de forma atabalhoada, muito foi dito, mas o que realmente queriam os manifestantes? Apesar de não haver um controle cronológico confiável das manifestações, o início é atribuído ao Movimento Passe Livre (MPL), um movimento popular que se organizou por meio das redes sociais para que pudessem marcar os locais de reivindicações em todo o país. A principal do grupo é a redução ou a não cobrança das tarifas do transporte público e, em 2013, a articulação se deu após o aumento da passagem de ônibus em algumas capitais brasileiras. Mas as manifestações que assolaram o país não ficaram somente na esfera do transporte público.

O que se viu foi uma verdadeira onda de protestos (ou deveria dizer tsunami) dos mais variados, com as mais diversas pautas, quando se tinha de fato uma pauta de reivindicações. Uma parcela considerável de indivíduos pegou “carona” nas aglomerações simplesmente para aparecer como pessoa politizada, “antenada” nos problemas do país. Outros tantos se deslocaram até os pontos de encontro apenas para fazer algazarra, tumultuar, depredar patrimônio público e privado. Estes últimos se escondiam atrás de lenços, camisetas tampando o rosto, como verdadeiros foras-da-lei. Segundo investigações policiais divulgadas nos principais veículos de comunicação do país, em alguns casos há a suspeita de patrocínio de grupos políticos isolados, em que impera o lema de “quanto pior, melhor”. Sem provas e com as investigações ainda em andamento, não passam de conjecturas.

Mas os caroneiros não ficaram isolados aos curiosos e aos arruaceiros. Outros movimentos sociais de porte menor e sem tanta representatividade usaram a ocasião como oportunidade de ter a suas pautas com visibilidade até então impensável. Uniram-se à massa que tomou conta das ruas minorias gays, religiosas, indígenas, movimentos sindicais, trabalhadores, estudantes, militantes de partidos políticos das mais diversas ordens e ideologias, cada qual com seu cartaz e grito de protesto. Muitos até se contradizendo: em uma mesma turba, via-se, por exemplo, manifestantes pedindo o fim do Ato Médico (sancionado com alguns vetos pela presidente Dilma Rousseff recentemente) enquanto outros entoavam gritos de ordem para a sanção integral do projeto, o que reflete o caráter extremamente multifacetado dos protestos.

Em meio a tanta diversidade, é impossível haver controle. Foi o que aconteceu nas principais cidades do Brasil. Confrontos com a polícia, depredações, agressões, bloqueios de vias públicas foram transmitidos pelas emissoras de televisão, registrando os flagrantes de violência e desrespeito aos direitos fundamentais da população, em um misto de guerra civil e arrastão. Em determinados momentos, o governo perdeu a mão, deixando “correr frouxo”, talvez até com medo de parecer antipático aos movimentos sociais e cais ainda mais no conceito da população, o que poderia refletir nas pesquisas de aprovação e, consequentemente, nas urnas da próxima eleição. O discurso de que as manifestações eram legítimas, que o direito de protestar seria preservado e que as pessoas podiam e deviam lutar pelos seus direitos foi uma constante entre presidente, governadores, prefeitos e legisladores. Fato, não há o que discutir. Mas no afã de parecer politicamente correto, o que era liberdade, em muitas ocasiões, tornou-se libertinagem.

O que o povo brasileiro espera de seus governantes é justiça, igualdade e oportunidade para trabalhar, estudar, comer, ter acesso à saúde, segurança e moradia, enfim, viver com dignidade. Mas o que se espera do povo é que faça jus aos seus direitos e não extrapole o bom senso. Cobrar, reivindicar, fiscalizar as ações do governo são salutares ao jogo democrático. Desde que feitas de forma ordeira, com civilidade e responsabilidade. Isso mostra o amadurecimento de um país. Infelizmente, ainda não chegamos neste patamar.

Imagem: pebinhadeacucar.com.br

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