domingo, 22 de março de 2009

O Peixe e a Páscoa


Tradicionalmente, seja por motivos religiosos, filosóficos ou mesmo comerciais, o consumo de peixe cresce na época da Páscoa. A explicação his-tórica é mais simples e menos glamorosa do que a versão que nos é passada através das gerações.
Os hebreus eram pescadores. O pão e o peixe faziam parte da alimen-tação cotidiana do povo, que não tinha grandes variedades de alimentos para o seu consumo. Segundo o professor da Faculdade Católica de Uberlândia Cássio Rodrigues, filósofo com mestrado em história pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU, grandes tradições religiosas já faziam parte de sociedades pagãs e foram incorporadas pelas religiões. É o caso da Páscoa e do Natal.
O carnaval é a grande festa pagã da carne que antecede o período da quaresma, que tem conotações religiosas hebraicas (povo judeu) e cristãs. Hebraicas, através do êxodo dos hebreus do Egito; e cristãs, por conta dos 40 dias em que Jesus Cristo peregrinou pelo deserto, e que culmina na Páscoa, período em que se evita o consumo de carne vermelha. As religiões fizeram do peixe um símbolo de purificação, mas ele já fazia parte da alimentação dos povos antigos.
Segundo Cássio, o tradicional bacalhau consumido na época da Pás-coa chegou às terras brazucas através dos portugueses. Com a expansão da navegação no século XIV, os navegantes precisavam de um alimento que não fosse facilmente perecível. Através dos povos nórdicos, descobriu-se o baca-lhau que, assim como a carne de sol nordestina, secava ao sol e mantinha os seus nutrientes e não estragava.
Logo, o bacalhau tornou-se um alimento popular em Portugal por ser barato e não facilmente perecível. Hoje, com especulação comercial, o genuíno bacalhau do Porto é um alimento caro, principalmente no Brasil. A ONG - organização não governamental – WWF (World Wide Fund for Nature), que luta pela preservação da natureza, alertou para a pesca predatória do bacalhau e o seu risco de extinção. Mesmo assim, ainda segundo Cássio, esse não seria o maior motivo do aumento do preço, e sim, a especulação capitalista. Quando indagado sobre as modificações culturais que vem ocorrendo, o professor concluiu que as tradições filosóficas e religiosas tem sido suplantadas pelo comércio e pelo capitalismo.

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