As manifestações ocorridas no mês de julho em todo o país
deram o tom do que deverá ser feito pelos três poderes constituídos (Executivo,
Legislativo e Judiciário) e nas três esferas (municipal, estadual e União).
Muito foi cobrado, até de forma atabalhoada, muito foi dito, mas o que
realmente queriam os manifestantes? Apesar de não haver um controle cronológico
confiável das manifestações, o início é atribuído ao Movimento Passe Livre
(MPL), um movimento popular que se organizou por meio das redes sociais para
que pudessem marcar os locais de reivindicações em todo o país. A principal do
grupo é a redução ou a não cobrança das tarifas do transporte público e, em
2013, a articulação se deu após o aumento da passagem de ônibus em algumas
capitais brasileiras. Mas as manifestações que assolaram o país não ficaram
somente na esfera do transporte público.
O que se viu foi uma verdadeira onda de protestos (ou
deveria dizer tsunami) dos mais variados, com as mais diversas pautas, quando
se tinha de fato uma pauta de reivindicações. Uma parcela considerável de
indivíduos pegou “carona” nas aglomerações simplesmente para aparecer como
pessoa politizada, “antenada” nos problemas do país. Outros tantos se
deslocaram até os pontos de encontro apenas para fazer algazarra, tumultuar,
depredar patrimônio público e privado. Estes últimos se escondiam atrás de
lenços, camisetas tampando o rosto, como verdadeiros foras-da-lei. Segundo
investigações policiais divulgadas nos principais veículos de comunicação do
país, em alguns casos há a suspeita de patrocínio de grupos políticos isolados,
em que impera o lema de “quanto pior, melhor”. Sem provas e com as
investigações ainda em andamento, não passam de conjecturas.
Mas os caroneiros não ficaram isolados aos curiosos e aos
arruaceiros. Outros movimentos sociais de porte menor e sem tanta
representatividade usaram a ocasião como oportunidade de ter a suas pautas com
visibilidade até então impensável. Uniram-se à massa que tomou conta das ruas
minorias gays, religiosas, indígenas, movimentos sindicais, trabalhadores,
estudantes, militantes de partidos políticos das mais diversas ordens e
ideologias, cada qual com seu cartaz e grito de protesto. Muitos até se
contradizendo: em uma mesma turba, via-se, por exemplo, manifestantes pedindo o
fim do Ato Médico (sancionado com alguns vetos pela presidente Dilma Rousseff
recentemente) enquanto outros entoavam gritos de ordem para a sanção integral
do projeto, o que reflete o caráter extremamente multifacetado dos protestos.
Em meio a tanta diversidade, é impossível haver controle.
Foi o que aconteceu nas principais cidades do Brasil. Confrontos com a polícia,
depredações, agressões, bloqueios de vias públicas foram transmitidos pelas
emissoras de televisão, registrando os flagrantes de violência e desrespeito
aos direitos fundamentais da população, em um misto de guerra civil e arrastão.
Em determinados momentos, o governo perdeu a mão, deixando “correr frouxo”,
talvez até com medo de parecer antipático aos movimentos sociais e cais ainda
mais no conceito da população, o que poderia refletir nas pesquisas de
aprovação e, consequentemente, nas urnas da próxima eleição. O discurso de que
as manifestações eram legítimas, que o direito de protestar seria preservado e
que as pessoas podiam e deviam lutar pelos seus direitos foi uma constante
entre presidente, governadores, prefeitos e legisladores. Fato, não há o que
discutir. Mas no afã de parecer politicamente correto, o que era liberdade, em
muitas ocasiões, tornou-se libertinagem.
O que o povo brasileiro espera de seus governantes é
justiça, igualdade e oportunidade para trabalhar, estudar, comer, ter acesso à
saúde, segurança e moradia, enfim, viver com dignidade. Mas o que se espera do
povo é que faça jus aos seus direitos e não extrapole o bom senso. Cobrar,
reivindicar, fiscalizar as ações do governo são salutares ao jogo democrático.
Desde que feitas de forma ordeira, com civilidade e responsabilidade. Isso
mostra o amadurecimento de um país. Infelizmente, ainda não chegamos neste
patamar.
Imagem: pebinhadeacucar.com.br
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